30 de out. de 2007

Pegar a estrada

Ao percorrer as estradas do Brasil realizando documentários e filmes, a câmera fotográfica torna-se uma companheira de viagem. Mas nem sempre há tempo de parar o veículo e fazer a foto. A forma que encontrei foi aproveitar o deslocamento como condição fotográfica. O punctum da Imagem, nas palavras de Roland Barthes, estaria em constante movimento. Um desafio a cada curva, com novas paisagens e pessoas a serem registradas na retina.

Inspirado em uma frase de pára-choque de caminhão, a exposição ISSO SIM É MEU MUNDO reúne fotos tiradas em deslocamentos realizados pelo interior do Brasil, nos estados de Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Mato-Grosso e Goiás, entre 2006 e 2007. Fotografar era uma forma de compensar o dia-a-dia pesado das filmagens. Distrair o olhar para perguntar sobre algo que não está mais ao alcance no momento da resposta. Lembrar do que já ficou para trás: como as curvas de uma estrada.

Pude me sentir como os antigos viajantes e exploradores do Século XVIII, que apesar do curto espaço de tempo, tentava apreender o que encontrava nas pequenas cidades e povoados. Registrar o que é humano: sua presença e seus vestígios. O destino nem sempre é o mais importante. O que interessa é o percurso.

Essa condição de igualdade entre fotografado e fotógrafo – ambos em deslocamento – permitiu surgir uma cumplicidade mútua ente ambos. A busca das imagens revela uma tentativa de encontrar significados naquele breve instante do percurso, da ultrapassagem, do seguir em frente.